GP do Mónaco é anacrónico

Este é o fim-de-semana mais aguardado por muitos dos amantes da Fórmula 1, com o Grande Prémio mais famoso do Campeonato do Mundo mas, ao mesmo tempo, o mais anacrónico e talvez o mais polémico: com um "glamour" inigualável e muito próprio, o Mónaco volta a receber nas suas ruas estreias e tortuosas os carros de competição mais rápidos do Mundo, para a corrida… mais louca do ano!

A pista criada por Anthony Noghès em 1929 – homenageado com o seu nome associado à difícil curva que dá entrada na recta da meta – continua, no essencial, semelhante ao original, apesar das mais de oito décadas passadas. O acrescento das curvas das piscinas (construídas nos anos 70) e a alteração na parte final, com o gancho de Rascasse e a curva de Noghès, além de outros retoques por questões de segurança, são as principais diferenças no traçado onde amanhã, quinta-feira (até nisto Mónaco é especial!), se realizam os primeiros treinos.

O G.P. do Mónaco foi criado como necessidade do Principado de arranjar um evento famoso que concorresse com a crescente fama da vizinha Nice, a roubar-lhe as luzes da ribalta (e os clientes do Casino…) com o seu Carnaval. Desde então que a louca corrida pelas ruas estreitas e com declives acentuados, traçado cheio de dificuldades e perigos, tornou-se num desafio a que nenhum piloto consegue ficar indiferente. Mesmo os que teimam em desdenhá-lo… "É como andar de bicicleta na sala lá de casa", costumava definir o brasileiro Nelson Piquet… que nunca lá conseguiu ganhar!

Analisando friamente, é um Grande Prémio anacrónico, não faz de facto sentido que os carros actuais – e os de há muitas décadas a esta parte! – ali corram, em especial quando tanto ênfase se coloca em matéria de segurança. Também é verdade que as velocidades ali atingidas são relativamente baixas, excepção feita à saída do túnel, onde se excedem os 300 km/h e onde um ressalto num asfalto "atira ao tapete" o piloto mais desprevenido! Mas Mónaco é especial e todos os olhos securitários se fecham perante a… impossibilidade de se fazer um Mundial de F1 sem a visita às ruas de Monte Carlo.

O Automobile Club de Monaco é o único promotor que não paga nada a Bernie Ecclestone para ter a sua prova inscrita no Mundial e goza de prerrogativas de que mais nenhum outro… sonha! Tem data fixa, tem treinos à quinta-feira para poder prolongar o programa por quatro dias, tem os seus próprios direitos televisivos! E tem uma equipa própria de comissários de pista conhecidos como os mais eficazes do Mundial de F1, de tal forma que, meia-hora depois de os F1 abandonarem a pista, conseguem que o trânsito esteja a fluir quase como nos dias normais!

E, enquanto os pilotos se batem com a própria pista, tentando não cometer um erro milimétrico que os deixe "pendurados" num "rail", as vedetas e colunáveis desfilam pelas "boxes" como se o Grande Prémio fosse uma imensa "passerelle"! É também um fim-de-semana que começa com um jogo de futebol em que os pilotos de F1 formam uma equipa, fazem passagem de modelos para efeitos de beneficência e termina, na noite da corrida, com um jantar de gala com o Príncipe.

Tudo é "glamour" no Grande Prémio do Mónaco que, por muito estranho que possa parecer, face à evolução técnica dos carros e ao anacronismo da pista, continuará a perdurar no Mundial! Garantia de ministro do Principado, agora que um novo projecto imobiliário ameaçou ocupar o cais habitualmente ocupado pelo enorme complexo que garante a transmissão televisiva. "O Mónaco é o Grande Prémio e o Grande Prémio é o Mónaco, isso é inegociável!".

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